Única parada

As pedras soltas que rolam sobre a terra
Com o giro orientado por leis conhecidas
Das quais não sei extrair o que se espera...

Uma metáfora que encaixa no descompasso
De pegadas espaçadas que buscam ganhar lastro
Com as adjacentes que juntas formam o rastro...

Se ouço o caminhar de outra perspectiva
Atento ao fato da direção exata não ser compreendida
Que os sentidos se confundem em termos não relativos

Ora, nada muda o fato.
Ouso dizer que faz parte do pacto,
Pisar à pressa do querer, com destinos inexatos.

Ilusão

O final, afinal.

Com passos firmes, e desejos cambaleantes,
Com olhos fixos, que não enxergam adiante.
Observando o brilho, periférico, radiante.

Absorção de energia. A física.
Repreender com gestos. A mímica.

O ganho e a perda. A troca.
A escolha da de um caminho, a rota.

O suor que escorre, pinga, frio.
De, rota.

Sim,
A ruína. O ruir. Estruturas em queda.
A distância dividida por montanhas,
E pedras.

Derrota.
 
Que o corte cegue a lâmina
Que o ouro ofusque a flâmula
Que o outro se lance, ao além do alcance.

Dos desejos que iniciaram o caminho
Sobram escombros de lembranças,
E eu definho.

Nas mágoas acumuladas,
Em poças formadas na base do querer,
Irregular,
Me defino.

Sinto o vento,
O movimento,
Com suas curvas,
Em sofrimento.

Me assento,
E cumprimento,
Os novos sentimentos,
Que alimento.

Rego

Fusão das horas e segundos, em alicerce, e mundo
Figura desvaída de sentidos, em estado impuro, imundo

É sutil a dor da ferida, ainda, séptica
No tempo certo antes do aguardo, da pele, gélida

A mim que miras, sou todo culpa, sem sabor
Assim, que digas. Sou de farsa, e rancor

Não disfarço, nem nego,
Mas desfaço, o ego,
Contemporâneo, ao selo,
Cartas perdidas, no chão, que rego.

Pare, olhe, escute... e vá.

- Hey, acorde...
- ... faça suas escolhas...

(Escute a voz...)

O conforto nem sempre lhe trará, conforto.

As vezes é preciso deixar a janela,
Levantar-se,
Sair,
E seguir a pé.

Não deixe apenas passar.

Conte passos. Conte histórias.
Conte,
Consigo.

As obviedades do Dia

Pense no dia de hoje,
Seja ele recente, na madrugada,
Seja ele chegando ao fim, na noite fria e enluarada.

Pense...

Nos hábitos e nos vícios,
Nos sinais e nos indícios.

Pense na forma como pensava pela manhã;
Pense na forma como pensa, enquanto pensa;

Pense nos pesares,
Pense nos olhares,
Na distância do passado que aconteceu,
até ontem,
até hoje, antes... e talvez Agora.

Pense...
Que dia diferente.

A água que não veio ao ligar a torneira,
A porta que não trancou com o girar da chave.
O tropeço irrelevante no tapete,
O correr para fugir da chuva em meio a ladeira.

Pense...

Da solidão do acordar, a multidão do transitar.
Da atrofia dos sentidos, ao contato imediato com os conflitos.
Da confusão ao começar a pensar, a execução dos ritos.

Que dia diferente, realmente.

Mas, enfim...
Eu penso:

Penso que mesmo sobre a cama, imóvel, eu abro portas.
Penso que ao sentar-me a beirada, apenas respirando, eu abro portas.
Penso que devo abrir todas as portas que eu puder...

Cada passo que damos cruzando as portas já abertas,
Não nos ensinam,
Nem fortalecem.

Se usarmos apenas as pernas,
Durante muito tempo,
Não saberemos mais usar as mãos para abri-las.

Precisamos abrir novas portas.
Precisamos bater, tocar campainhas... Talvez força-las.

Mas, precisamos...

Precisamos da porta que nos leve para o horizonte,
Que nos mostre algo que materialize a esperança,
Que deixe que ela nos confronte,
E acenda a nossa chama da mudança.