Traga nas mãos aquilo que importa

De pequenas crianças, com mãos abanando, nos elevamos a jovens adultos, com mochilas desbotadas e rasgadas. Após, somos os ternos com malas seguras e belas, e, então, partimos, como velhos, cheios de quinquilharias. Do universo cheio de dúvidas oriundas da inocência fetal, chegamos ao mar de certezas embaçadas, que se percebe ao pisar nas areias da estrada, ao final.

A bagagem do indivíduo, é sua história perpetuada em memória. Seus saberes, seus dizeres, suas teses, e seus erros. Aquilo que espanta, e que alivia. O “tudo”, enfim. O acúmulo que nos persegue, e, as vezes, ajuda... Recorremos ao monte, aos montes, mas fugimos da sombra.

Eis, então, que nos deparamos com as encruzilhadas. Dificilmente optamos pela sorte. Somos inclinados a olhar para trás e buscar naquilo que já sabemos alguma base para nossa escolha. Um pouco reféns de nossa própria organização, demoramos, ou não, para optar. O vasculhar costuma ser breve, pois os primeiros traços de resposta geralmente são suficientes para nos tendenciar. E isso, é o ponto importante.

Uma hora ou outra, paramos para por ordem em tudo aquilo que possuímos. É aquele momento mágico em que descobrímos que as roupas dobradas ocupam metade do espaço, e que podemos carregar muito mais coisas. Há ainda aquela sensação de quebrar alguma lei da física, pois parecemos tirar um pouco do peso das coisas, apenas mudando de lugar... Ordenando. “Trago ainda tudo comigo, mas as costas não doem mais”.

Os anos passam, e aprendemos que organizar não é apenas uma questão de dividir por cores, ou formas. Tem muito mais a ver com deixar a mão o que realmente vamos precisar, e deixar de lado, como se fosse naquele baú do sótão, aquilo que talvez um dia precisemos.

Como já disse, temos a nossa bagagem perpétua. Porém, podemos escolher aquilo que traremos nas mãos.