Pequenos consertos, grandes acertos, e um caminho deserto... de certo.

E você, como sempre, pouco detalhista, repara num dia qualquer que uma marca surge numa parede “invisível” (daquelas pelas quais você passa todos os dias, mas já deixou de, de fato, “olhar”). É como se não apenas a marca, mas, sim, toda a parede, se tornasse então novamente observável. Você julga a situação por instantes, pondera as alternativas, pensa nas causas, reflete sobre a possibilidade daquilo estar ali há mais tempo, e, por fim, nada faz, pois a marca é pequena, pouco chama a atenção, e não aparenta trazer consigo maiores consequências.

E passam-se dias, daqueles normais, nos quais você ignora os pormenores e transparenta novamente as paredes... Entre idas e vindas, a marca se alastra. Torna-se maior, mesmo devagar, mudando sutilmente sua aparência, até o ponto em que, para você, ela se apresenta novamente.

Num ciclo de ver e deixar de ver, é possível carregar algumas situações por períodos extensos, sem contar os dias, pois o início de tudo é esquecido, afinal, foi uma marca pequena, sem importância.

Grande parte das ruínas que encaramos durante a vida não são materializadas instantaneamente a nossa frente. A imensa maioria são constituídas por construções sólidas, que aos poucos cederam as avarias, e sucumbiram pela nossa falta de cuidados. São pequenas marcas, que crescem, tornam-se rachaduras, que multiplicam-se, e tombam nossa segurança.

Agir no momento certo é quase como uma arte, oriunda de algum tipo de dom, pois o fazer, para alguns, parece simples e corriqueiro, e, para outros, parece exigir forças além das disponíveis. É similar a sensação de estar ao lado de um desenhista, com folhas e lápis a disposição... Tão natural quanto o seu desenho, é o nosso borrão indo numa direção qualquer, envolto num papel amassado.

Tornar consistente o que nos rodeia passa por esse exercício de desenhar, amassar, e jogar. Sem invejar os artistas, nem pedir-lhes auxílio, por nós, devemos tentar, quantas vezes forem necessárias, até conseguirmos manter intacta alguma das folhas. É esse “aprender” um dos pilares para que possamos melhorar e livrar-nos das vontades, de desertar.